Esta é a parte que você nunca arrancará de mim.

segunda-feira, 29 de março de 2010

terça-feira, 9 de março de 2010

Todo o Mundo e Ninguém

esta é uma peça que eu particularmente adoro, porque apesar de ser escrita no século XVI, o tema é muito atual e sempre será.



Representada pela primeira vez em 1532, como parte de uma peça maior, chamada Auto da Lusitânia (no século XVI, chama-se auto ao drama ou comédia teatral), a obra é de autoria do criador do teatro português, Gil Vicente.
Um rico mercador, chamado "Todo o Mundo" e um homem pobre cujo nome é "Ninguém", encontram-se e põem-se a conversar sobre o que desejam neste mundo. Em torno desta conversa, dois demônios (Belzebu e Dinato) tecem comentários espirituosos, fazem trocadilhos, procurando evidenciar temas ligados à verdade, à cobiça, à vaidade, à virtude e à honra dos homens.


Auto da Lusitânia

Ninguém: Que andas tu aí buscando?

Todo o Mundo: Mil cousas ando a buscar:
delas não posso achar,
porém ando porfiando
por quão bom é porfiar.
(porfiando: insistindo, teimando.)

Ninguém: Como hás nome, cavaleiro?

Todo o Mundo: Eu hei nome Todo o Mundo
e meu tempo todo inteiro
sempre é buscar dinheiro
e sempre nisto me fundo.
E sempre nisto me fundo: e sempre me baseio neste princípio, nesta idéia.

Ninguém: Eu hei nome Ninguém,
e busco a consciência.

Belzebu: Esta é boa experiência: Dinato, escreve isto bem.

Dinato: Que escreverei, companheiro?

Belzebu: Que ninguém busca consciência.
e todo o mundo dinheiro.

Ninguém: E agora que buscas lá?

Todo o Mundo: Busco honra muito grande.

Ninguém: E eu virtude, que Deus mande
que tope com ela já.

Belzebu: Outra adição nos acude:
escreve logo aí, a fundo,
que busca honra todo o mundo
e ninguém busca virtude.

Ninguém: Buscas outro mor bem qu'esse?

Todo o Mundo: Busco mais quem me louvasse
tudo quanto eu fizesse.

Ninguém: E eu quem me repreendesse
em cada cousa que errasse.

Belzebu: Escreve mais.

Dinato: Que tens sabido?

Belzebu: Que quer em extremo grado
todo o mundo ser louvado,
e ninguém ser repreendido.

Ninguém: Buscas mais, amigo meu?

Todo o Mundo: Busco a vida a quem ma dê. Ma: me+a. Contração dos pronomes pessoais oblíquos, objeto indireto e direto, respectivamente.

Ninguém: A vida não sei que é,
a morte conheço eu.

Belzebu: Escreve lá outra sorte.
Dinato:
Que sorte?

Belzebu: Muito garrida:
Todo o mundo busca a vida
e ninguém conhece a morte.

Todo o Mundo: E mais queria o paraíso,
sem mo ninguém estorvar.

Ninguém: E eu ponho-me a pagar
quanto devo para isso.

Belzebu: Escreve com muito aviso.

Dinato: Que escreverei?

Belzebu: Escreve que Todo o Mundo quer paraíso
e ninguém paga o que deve.

Todo o Mundo: Folgo muito d'enganar,
e mentir nasceu comigo.
(folgo: tenho prazer, gosto.)

Niguém: Eu sempre verdade digo
sem nunca me desviar.

Belzebu: Ora escreve lá, compadre,
não sejas tu preguiçoso.

Dinato: Quê?

Belzebu: Que todo o mundo é mentiroso,
E ninguém diz a verdade.


Ninguém: Que mais buscas?

Todo o Mundo: Lisonjear.

Ninguém: Eu sou todo desengano.

Belzebu: Escreve, ande lá, mano.

Dinato: Que me mandas assentar?

Belzebu: Põe aí mui declarado,
não te fique no tinteiro:
Todo o Mundo é lisonjeiro,
e Ninguém desenganado.

fonte: portal da família

sábado, 6 de março de 2010

Às Mulheres



À nós:

Com licença poética

Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
— dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.




e esse outro também:

Às mulheres

Que mulher nunca teve...
-Um sutiã meio furado,
-Um primo meio tarado,
-Ou um amigo meio viado?

Que mulher nunca tomou...
-Um porre de cair
-Ou um tranquiliznte para dormir?

Que mulher nunca sonhou...
-Com a sogra morta, estendida...
-Em ser muito feliz na vida
-Ou com um tratamento para estrias?

Que mulher nunca pensou...
-Em dar fim numa panela,
-Jogar o namorado pela janela
-Ou que a culpa era toda dela?

Que mulher nunca penou...
-Para ter a perna depilada,
-Para aturar uma empregada
-Ou para trabalhar menstruada?

Que mulher nunca comeu...
-Uma caixa de Bis, por ansiedade...
-Uma alface, no almoço, por vaidade
-Ou, um canalha por saudade?

Que mulher nunca apertou...
-O pé no sapato para caber,
-a barriga para emagrecer
-Ou um ursinho para não enlouquecer?

Que mulher nunca jurou...
-Que não estava ao telefone,
-Que não pensa em silicone
-Ou que "dele" não lembra nem o nome?

Só quem é mulher para entender esse poema.

autor desconhecido.

fontes: poema 1 e poema 2